RIO DE JANEIRO, 08 de Julho de 2013 - A dimensão da “peregrinação” faz parte do espírito da JMJ. Eis que estamos às portas, e jovens do mundo inteiro estarão acorrendo ao “Santuário Mundial da Juventude” para o encontro com Cristo juntamente com o primeiro peregrino, o sucessor do Apóstolo Pedro, o Papa Francisco, em sua primeira viagem apostólica.
Os jovens não virão à nossa cidade como turistas, mas sim como peregrinos que buscam um encontro amoroso com Cristo Ressuscitado. Este é o espírito da Jornada. Por isso a acolhida simples, a caminhada para o “Campus Fidei”, o tempo de oração e reflexão.
Todas as vezes que nós vamos peregrinar devemos nos preparar espiritualmente. Precisamos fazer um exame de consciência completo de nossa vida cristã, de nossa pertença às comunidades e de nossa adesão ao Evangelho. Eu mesmo recordei a todos os voluntários e famílias acolhedoras para que vivessem o tempo de espera em oração, confissão e penitência para crescerem na fé. Somos chamados a nos arrepender de nossos pecados, procurando deixar de lado tudo aquilo que nos afasta de Deus e da Santa Igreja. A nossa unidade fará a diferença nesse momento tão importante de nossa caminhada. Também os que residem na Cidade Maravilhosa podem ter o espírito de peregrino acolhendo os irmãos na fé. Como eu sigo Jesus Cristo? Como eu vivo o Evangelho? Esta deve ser a nossa preocupação fundamental nesse itinerário espiritual tanto para os que chegam como para os que acolhem os jovens aqui no “Santuário Mundial da Juventude”.
Todo ser humano é por natureza um peregrino. Esta característica exprime-se, quer na viagem existencial de cada pessoa, quer nas múltiplas viagens que ela realiza pelas estradas da vida. Um dos motivos para a essa viagem é a fé. O homem põe-se a caminho, à procura de Deus ou atraído para o encontro com Ele: “Tu atraíste-nos para Ti, Senhor, e inflamaste os nossos corações”. Quando o peregrino parte movido pela fé, animado pelo verdadeiro espírito religioso em resposta a um apelo e impulso divinos, então podemos dizer que ele faz uma “santa viagem”. Com esse ato, adora a Deus, põe-se à escuta da sua voz, acolhe o Evangelho, manifesta o seu amor e a sua fé para com Deus e cultiva a sua espiritualidade.
A peregrinação religiosa é uma constante na história da humanidade e da Igreja. É motivada pelo fascínio exercido pelos “lugares santos” ou pela esperança de dar passos em sua caminhada espiritual, ou mesmo para pedir ou agradecer situações existenciais. Frequentemente, o peregrino leva no coração a gratidão por alguma graça alcançada ou o desejo de cumprir determinada promessa que fez. Normalmente os santuários são a meta das peregrinações religiosas. Pelos acontecimentos e graças que neles se verificam, esses locais são memória viva da manifestação de Deus e das maravilhas que Ele ali realiza em favor dos seus fiéis. São também sinais da Sua proximidade e disponibilidade para com os homens, beneficiados com os dons espirituais que recebem; tornam-se igualmente lugares de esperança para alívio e consolação das tribulações e anseios humanos.
A peregrinação, enquanto ato religioso em direção a um lugar sagrado, constitui num memorial dos acontecimentos que nele se realizaram. Torna-se, com frequência, para muitos peregrinos, experiência da presença e ação de Deus junto dos que Nele confiam.
Por isso, quem vem ao Rio de Janeiro é um peregrino que quer se abrir ao Redentor, que do alto do Corcovado está de braços abertos conclamando os peregrinos a irem ao Seu Divino Encontro.
A narração evangélica da peregrinação da Sagrada Família de Nazaré ao templo de Jerusalém, permite-nos compreender o objetivo e a espiritualidade desta prática religiosa (Lc 2, 41-52). A missão dessa família era cumprir a lei de Deus, adorando-o no seu templo (cf. Ex 23,16; Dt 16,16). Todo aquele que se faz peregrino centra-se em Deus, procura escutar e obedecer a voz do Espírito que o guia nos seus caminhos e o faz entrar na comunhão com Deus. O fruto da peregrinação será o crescimento em sabedoria e graça diante de Deus e dos homens.
As peregrinações evocam nossa caminhada pela terra em direção ao céu. São tradicionalmente tempos fortes para renovar nossa oração. Os santuários são para os peregrinos, em busca de suas fontes vivas, lugares excepcionais para viver "como Igreja" as formas da oração cristã.
Ao virem como peregrinos ao Rio de Janeiro, a caminhada é para que o encontro com o Senhor os faça viver como discípulos à “luz da fé”, que os leva a retornar para suas casas como animados missionários: "Ide e fazei discípulos entre todas as nações!" (cf. Mt 28, 19). Fazer discípulos, chamar outros para a comunhão e o convívio com o Senhor é o tema mais querido do Evangelho de São Mateus. Esse mandato já está anunciado em todo o Evangelho e, na verdade, só faz discípulo quem já é discípulo, quem convive com o Senhor.
Neste tempo de “mudança de época”, em que nossa juventude assume o seu profetismo cristão nas manifestações pacíficas e com objetivos claros de cidadania, todos nós, como peregrinos, somos chamados a ser “protagonistas de um mundo novo”. Por isso mesmo, o peregrino discípulo-missionário pauta sua vida pela disponibilidade e fraternidade. Não procura levar vantagem em nada por se colocar a serviço e tampouco desanima com as dificuldades próprias de uma grande concentração. Ele, com isso, ganha a pertença ao Reino, a certeza do amor de Deus e de ser para os outros sinal cândido de misericórdia e de amor. O peregrino leva no seu coração e reparte com os outros a esperança de tempos novos. São frutos e dons que o mundo necessita muito e que cada um deverá levar para sua casa. Nos tempos de hoje, com as violências, guerras, corrupções, maldades, divisões, dependências e frustrações, o peregrino é sinal de que em Cristo Ressuscitado, a esperança tem seu fundamento.
Sejam todos muito bem-vindos! Desejo uma boa preparação para este espírito de peregrinação que a todos nós deve mover para ir ao encontro do Redentor!
† Orani João Tempesta, O. Cist.
Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ
Fonte: zenit