Dia de Finados
Nesta Sexta Feira dia, 02 em todo o Brasil celebra-se o dia de todos os mortos e fieis defuntos, tendo como tema base não a morte como fim, mas sim, o inicio de um tempo novo, de um intenso e rico momento na presença de Deus.
A Igreja reflete sobre a morte, não como uma perda de tempo; é sim, uma luz que nos ajuda a fazer escolhas justas e sensatas durante a vida. Para tanto estamos disponibilizando um material de estudo sobre a escatologia (= Areá da teológica que estuda o fim dos tempos) para maior aprofundamento e instigar o leitor/a a uma maior reflexão sobre o assunto.
A escatologia é um estudo que prisma os finais dos tempos. E
neste intuito encontramos um problema, pois a única coisa que está garantida
nesta vida é a morte. O restante é uma realidade sem certeza. Algumas coisas
podem ser fantasiosas, alguns temas e pregações sobre o fim dos tempos são meras
especulações. Porque ninguém regressou do outro lado da morte, para afirmar se
estamos certos ou errados nos nossos pensamentos.
O purgatório, que muitas vezes é um tema de nossas falas,
para a Igreja não é um lugar físico ou outra forma. Esse assunto começa a ser
ventilado a partir da Idade Média, e muitas vezes a escatologia[1] que temos, trata-se deste
período e fruto da teologia medieval. A escatologia que estudaremos é mais na
linha da teologia popular ou de cunho mais catequético. Que não esta preocupada
com lugares, mas sim, com realidades.
Tudo o que possuímos de escatologia, o temos a partir de uma
reflexão iniciada na Idade Média, e isso
faz com que a nossa visão esteja ligada desde já a uma concepção antiga da
própria escatologia. Agora com a teoria da evolução, muda-se a concepção do
cosmos, e esta nova visão, afeta o cristianismo, e reformula a escatologia, que
não leva em consideração a criação em todos os sentidos, ou a teoria do
criacionismo, como propôs Darwin.
A idéia de purgatório possui seus resquícios na teoria de
Santo Agostinho, mas desenvolve-se de uma forma especifica, na Idade Média.
Esta idéia tem como premissa, resolver a questão do pós–morte da nobreza da
época. Porque era impensado na concepção medieval que um nobre estivesse
condenado para o inferno.
A escatologia tem um problema, a questão do privilégio do
individuo, e isto de certa forma, caminha conta a doutrina bíblica, que
contempla o todo e não o individuo em si. Mas hoje se mudou o conceito e começa
o relato da escatologia mais no âmbito comunitário do que, de forma mais
especifica, individual. Essa é a nova visão da escatologia contemporânea.
A escatologia é um preparo, não para o fim, mas para uma
consumação do fim. A escatologia trata da divinização do ser humano, é o estudo
da realização e completude, não do fim, mas da consumação para um próximo passo,
é a abertura para uma nova vida, um novo caminhar.
Sobre a a morte o Concílio Vaticano II, comenta sobre o assunto
nos números 18 e 22 da Gaudium Et Spes
18.
É em face da morte que o enigma da condição humana mais se adensa. Não é só a
dor e a progressiva dissolução do corpo que atormentam o homem, mas também, e
ainda mais, o temor de que tudo acabe para sempre. Mas a intuição do próprio
coração fá-lo acertar, quando o leva a aborrecer e a recusar a ruína total e o
desaparecimento definitivo da sua pessoa. O germe de eternidade que nele
existe, irredutível à pura matéria, insurge-se contra a morte. Todas as
tentativas da técnica, por muito úteis que sejam, não conseguem acalmar a
ansiedade do homem: o prolongamento da longevidade biológica não pode
satisfazer aquele desejo duma vida ulterior, invencìvelmente radicado no seu
coração.
Enquanto,
diante da morte, qualquer imaginação se revela impotente, a Igreja, ensinada
pela revelação divina, afirma que o homem foi criado por Deus para um fim
feliz, para além dos limites da miséria terrena. A fé cristã ensina que a
própria morte corporal, de que o homem seria isento se não tivesse pecado - acabará
por ser vencida, quando o homem for pelo omnipotente e misericordioso Salvador
restituído à salvação que por sua culpa perdera. Com efeito, Deus chamou e
chama o homem a unir-se a Ele com todo o seu ser na perpétua comunhão da
incorruptível vida divina. Esta vitória, alcançou-a Cristo ressuscitado,
libertando o homem da morte com a própria morte. Portanto, a fé, que se
apresenta à reflexão do homem apoiada em sólidos argumentos, dá uma resposta à
sua ansiedade acerca do seu destino futuro; e ao mesmo tempo oferece a
possibilidade de comunicar em Cristo com os irmãos queridos que a morte já
levou, fazendo esperar que eles alcançaram a verdadeira vida junto de Deus.
22.
Na realidade, o mistério do homem só no mistério do Verbo encarnado se
esclarece verdadeiramente. Adão, o primeiro homem, era efectivamente figura do
futuro, isto é, de Cristo Senhor. Cristo, novo Adão, na própria revelação do
mistério do Pai e do seu amor, revela o homem a si mesmo e descobre-lhe a sua
vocação sublime. Não é por isso de admirar que as verdades acima ditas tenham
n'Ele a sua fonte e n'Ele atinjam a plenitude.
«Imagem
de Deus invisível» (Col. 1,15), Ele é o homem perfeito, que restitui aos filhos
de Adão semelhança divina, deformada desde o primeiro pecado. Já que, n'Ele, a
natureza humana foi assumida, e não destruída, por isso mesmo também em nós foi
ela elevada a sublime dignidade. Porque, pela sua encarnação, Ele, o Filho de
Deus, uniu-se de certo modo a cada homem. Trabalhou com mãos humanas, pensou
com uma inteligência humana, agiu com uma vontade humana, amou com um coração
humano. Nascido da Virgem Maria, tornou-se verdadeiramente um de nós,
semelhante a nós em tudo, excepto no pecado.
Cordeiro
inocente, mereceu-nos a vida com a livre efusão do seu sangue; n 'Ele nos
reconciliou Deus consigo e uns com os outros e nos arrancou da escravidão do
demónio e do pecado. De maneira que cada um de nós pode dizer com o Apóstolo: o
Filho de Deus «amou-me e entregou-se por mim» (Gál. 2,20). Sofrendo por nós,
não só nos deu exemplo, para que sigamos os seus passos, mas também abriu um
novo caminho, em que a vida e a morte são santificados e recebem um novo
sentido.
O
cristão, tornado conforme à imagem do Filho que é o primogénito entre a
multidão dos irmãos, recebe «as primícias do Espírito» (Rom. 8,23), que o
tornam capaz de cumprir a lei nova do amor. Por meio deste Espírito, «penhor da
herança (Ef. 1,14), o homem todo é renovado interiormente, até à «redenção do
corpo» (Rom. 8,23): «Se o Espírito d'Aquele que ressuscitou Jesus de entre os
mortos habita em vós, Aquele que ressuscitou Jesus de entre os mortos dará
também a vida aos vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita»
(Rom. 8,11). É verdade que para o cristão é uma necessidade e um dever lutar
contra o mal através de muitas tribulações, e sofrer a morte; mas, associado ao
mistério pascal, e configurado à morte de Cristo, vai ao encontro da
ressurreição, fortalecido pela esperança.
E
o que fica dito, vale não só dos cristãos, mas de todos os homens de boa
vontade, em cujos corações a graça opera ocultamente. Com efeito, já que por
todos morreu Cristo e a vocação última de todos os homens é realmente uma só, a
saber, a divina, devemos manter que o Espírito Santo a todos dá a possibilidade
de se associarem a este mistério pascal por um modo só de Deus conhecido.
Tal
é, e tão grande, o mistério do homem, que a revelação cristã manifesta aos que
crêem. E assim, por Cristo e em Cristo, esclarece-se o enigma da dor e da
morte, o qual, fora do Seu Evangelho, nos esmaga. Cristo ressuscitou,
destruindo a morte com a própria morte, e deu-nos a vida, para que, tornados
filhos no Filho, exclamemos no Espírito: Abba, Pai.
A seguir o que A Congregação para a Doutrina da Fé da Igreja Catolica Apostolica Romana informa sobre a morte para nós neste dia.
"O que acontece
depois da morte?
Carta sobre algumas
questões referentes à escatologia, da Congregação para a Doutrina da Fé, da
Igreja católica
Por Edson Sampel
Os itens abaixo estão
baseados na “Carta sobre algumas questões referentes à escatologia”, da
Congregação para a Doutrina da Fé, da Igreja católica.
1) Depois da morte, ocorre
a sobrevivência e a substância de um elemento
espiritual, dotado de consciência e de vontade. Subsiste, assim,
o eu humano,
enquanto carece do complemento do seu corpo. Este elemento espiritual se
chama alma.
2) Aguarda-se a gloriosa
manifestação de nosso Senhor Jesus Cristo, considerada, entretanto, distinta e
postergada em relação à condição própria do homem imediatamente depois da
morte. Alguns teólogos denominam evo [pronuncia-se évo] esse “tempo” que
medeia entre a morte e a ressurreição dos mortos, no juízo final. De fato,
o tempo (com
começo e fim) se refere ao homem na terra; a eternidade (sem começo e sem fim) é um
atributo exclusivo de Deus e o evo (começa
com o óbito e não tem fim), típico do homem, é definido como uma sucessão de atos psicológicos.
3) A ressurreição dos
mortos se refere a
todo o homem, isto é, corpo e alma: para os eleitos
não é, senão, a extensão da própria ressurreição de Jesus Cristo.
4) A Igreja, em adesão
fiel ao novo testamento e à tradição, crê na felicidade dos justos, que estarão
um dia com Cristo no céu.
Também crê no castigo eterno que espera o pecador, que será privado da visão de
Deus, e na repercussão dessa pena em todo o seu ser. Crê, finalmente, em uma
eventual purificação para os eleitos, prévia à visão de Deus; de todo diversa,
no entanto, do castigo dos condenados. Isto é o que entende a Igreja quando
fala do inferno e
do purgatório.
5) Os cristãos devem
manter-se firmes quanto a dois pontos essenciais: têm de acreditar, por um
lado, na continuidade
fundamental que existe, por virtude do Espírito Santo, entre a
vida presente em Cristo e a vida futura; por outro lado, deve-se saber que
ocorre uma ruptura
radical entre o presente e o futuro, pelo fato de que à
economia da fé sucede a economia da plena luz; ou seja, no céu, nós estaremos
com Cristo e veremos
Deus (1 Jo 3,2).
Edson Luiz Sampel é Doutor
em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.
Professor do Instituto Teológico Pio XI (Unisal) e da Escola Dominicana de
Teologia (EDT). Autor do livro “Reflexões de um Católico” (Editora
LTR)."
Fonte: www.zenit.org
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