quinta-feira, 8 de novembro de 2012


Se os evangelizadores não forem  
santos fica difícil ajudar os outros
Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, explica de forma concreta o texto da mensagem final do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização

Maria Emília Marega

A Mensagem final da XIII Assembléia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã reflete uma Igreja Viva, pronta para enfrentar os desafios e problemas do nosso tempo.
Para aprofundar a mensagem de forma concreta ZENIT conversou com Dom Sérgio da Rocha, arcebispo de Brasília, que participou da comissão responsável por redigir o texto.

O senhor foi convocado pelo Papa para compor a comissão responsável por redigir a mensagem final do Sínodo dos Bispos. Como foi?
Dom Sérgio: Para mim foi uma surpresa! Eu na verdade não tinha sido comunicado diretamente, foi em plenário que eu fiquei sabendo da nomeação. Eram 12 bispos representando os 5 continentes; da América, o cardeal de New York e eu, podemos dizer, representando a América Latina. Trabalhamos em conjunto, partilhamos um pouco da experiência que vivemos no próprio continente.

O que significou esta convocação inesperada para a América Latina?
Dom Sergio: Foi muito importante. Os próprios bispos viram neste gesto do Papa, de fato, um gesto de reconhecimento da importância da Igreja que está no Brasil e na América Latina.

Quais foram as novidades desta mensagem?
Dom Sérgio: Uma das novidades do texto atual é que ao final os Padres Sinodais se dirigem especificamente aos 5 continentes. No caso da América Latina foi expresso um pouco da realidade latino americana, tanto os valores como os desafios, na verdade, vão muito além do que o próprio texto consegue expressar.
A mensagem quer expressar a Catolicidade da Igreja sem menosprezar o que é próprio de cada região e por isso tem essa índole geral e somente no final dirige uma palavra específica de apoio, gratidão, esperança e também alguma orientação para cada um dos 5 continentes. Nisto se manifesta a Catolicidade: a Igreja é Uma na diversidade, o mistério Trinitário da Igreja.
A mensagem não quer e não deve ser um resumo do Sínodo, ela é uma referência significativa enquanto não se tem a Exortação Apostólica, que é post-sinodal e demora um pouco, a anterior demorou quase 2 anos. O texto atual é mais longo, pois quis acolher grande parte das reflexões. Apesar de conter grandes aspectos que foram destacados durante a assembléia, não são todos, as proposições são mais completas.

O que foi colocado em evidência para a América Latina?
Dom Sérgio: O texto fala da gratidão à América Latina pelo seu testemunho e destaca a piedade popular como um dos grandes valores; também consta o serviço da caridade e o diálogo com as culturas locais que hoje é também, o diálogo com as culturas modernas.
Os desafios destacados foram: a pobreza, a violência e as novas denominações religiosas.
Como propostas para a América Latina os Bispos recomendam aquilo que está no documento de Aparecida: uma Igreja em estado permanente de missão formando comunidades de discípulos missionários de Jesus Cristo.

Para o senhor o que ficou mais marcado?
Dom Sergio: Eu pessoalmente vejo a referência da Samaritana como um dos aspectos mais genuínos dessa mensagem, embora apareça pouco, em 2 momentos, sobretudo, ilumina a própria mensagem. O primeiro momento é o encontro com Cristo na beira do poço, as condições que ela trazia e a água que Jesus oferece, a água viva; o poço transformando a vida dela. Não dá para fazer Nova Evangelização sem o encontro com Cristo que está na origem e na finalidade. Nós queremos partir do encontro com Cristo e levar as pessoas ao encontro com Cristo. É um encontro que pressupõe conversão, uma vida nova.

Como orientar as pessoas que buscam este poço e têm sede, mas estão perdidas?
Dom Sérgio: Os evangelizadores devem vivenciar, fazer esta experiência do encontro com Cristo; não dá para somente convidar os outros. A Samaritana vai ao encontro do povo e conta a experiência dela, que é muito importante, mas existe um terceiro passo quando as pessoas dizem que já não estão mais acreditando apenas porque ela falou, mas porque eles também fizeram essa mesma experiência, que é contagioso. Nós levamos para os outros o nosso testemunho, porém queremos que eles também façam a mesma experiência.

E como levar as pessoas a esta experiência do Encontro com Cristo?
Dom Sérgio: Os evangelizadores têm que se dispor à conversão, conforme citado no item 5 da mensagem: evangelizar a nós mesmos e dispor-nos à conversão. Se os evangelizadores não forem santos, não se dispuserem a viver na santidade fica muito difícil ajudar os outros.

Novos métodos para uma Nova Evangelização...
Dom Sérgio: Quando se pensa em Nova Evangelização logo se pensa em métodos, isto é verdade, conforme a conhecida frase de João Paulo II. Mas precisamos ter atenção, pois esta diz: novo ardor e novos métodos, primeiro novo ardor e depois novos métodos. É impossível ter este ardor sem a experiência do Encontro e sem a vivencia da Palavra. A pessoa tem que acolher o Evangelho como vida nova para ela, e depois fazer isto com os irmãos.
O encontro pessoal na Igreja é fundamental, conforme cita o terceiro ponto da mensagem. Podemos dizer que o texto tem um primeiro olhar para Cristo, o encontro com Cristo; um segundo olhar para a Igreja e a experiência de vida comunitária, do amor fraterno, da caridade, e aqui se lê: comunidades acolhedoras, solidárias. 

Porque existe esta dificuldade de fazer as pessoas se sentirem acolhidas?
Dom Sérgio: Acho que entra a questão pastoral, o modo de se vivenciar uma paróquia, uma comunidade, mas entra muito a própria experiência de fé, de vida fraterna, de caridade na comunidade. Ninguém oferece aquilo que não tem, uma comunidade que vive a caridade entre si também vai se abrir para acolher quem chega. Uma comunidade que for apenas de gente que se encontra, mas não tem vida fraterna, não tem vida comunitária, fica difícil dispor para acolher os outros.
O primeiro desafio é formar comunidades que vivem da fé, que fazem a experiência do encontro com Cristo, mas que vivem a caridade. O Papa fala na Porta Fidei desta dupla dimensão para o Ano da Fé e também para a Nova Evangelização: a fé e a caridade. Você anuncia, mas a caridade é fundamental. Acho que o texto da mensagem cita inclusive Tertuliano: Vede como eles se amam.
O texto da mensagem tem a seguinte estrutura: um olhar para Cristo, o encontro com Cristo e a fé; um olhar para a Igreja, a vida de comunhão, a caridade; um olhar para o mundo, a missão.

Alguns dizem que a mensagem final do Sínodo tem uma visão muito otimista da realidade. É isso mesmo?
Dom Sérgio: A mensagem não tem um olhar pessimista, a Igreja se sente sim desafiada, mas não acuada; a Igreja tem uma proposta, tem algo a oferecer para esse mundo sofrido, algo novo. A Europa sobretudo que tem um quadro mais sofrido em termos de vida de Igreja, de cultura aberta à fé, muito marcado pela secularização, pela exclusão da Igreja dos espaços públicos, mas não é algo que não fica só na Europa. A secularização é um desafio que vai passando para outros países, mesmo assim, se olha para o mundo secularizado como ocasião para a evangelização, e a mensagem diz que isto é uma oportunidade.

Qual era o olhar dos Padres Sinodais para a juventude?
Dom Sérgio: Inicialmente este olhar era muito um olhar para o futuro, os jovens como futuro da Igreja, futuro da humanidade; em um segundo momento, e isto está no texto, isto foi equilibrado destacando a atuação dos jovens no presente. Na verdade, é possível observar que há sim muitos jovens na Igreja, sobretudo na América Latina e na África onde muitos ministérios e serviços da Igreja são exercidos por jovens. Por exemplo, a catequese, a liturgia, a crisma, e outras atividades da paróquia. Mas é também verdade que a grande parte dos jovens não estão na Igreja e nós temos sim que fazer muito.
E nós temos que evangelizar contando com os próprios jovens e a Jornada Mundial da Juventude aparece aqui como um dos grandes meios para evangelizar, que reúne jovens do mundo todo, como vai acontecer no Brasil em 2013.

Como o senhor resumiria a mensagem final do Sínodo sobre a Nova Evangelização para a transmissão da fé cristã?
Dom Sérgio: Acho que a mensagem final poderia ser resumida em termos de atitude em três pontos: gratidão, atitude de esperança e responsabilidade do tempo presente.
Gratidão: em primeiro lugar á Deus, ação de graças a Deus, mas acompanhado de gratidão às pessoas que se lançam na evangelização, todo o clero, os religiosos e as religiosas, os consagrados, os leigos e os movimentos, as pastorais, as novas comunidades. Isto é a Nova Evangelização: a igreja toda evangelizando.
Atitude de esperança: uma visão que não é negativa, mas sim realista, tanto que em alguns momentos podemos ler alguns problemas enfrentados por muitas dioceses do mundo. Mas podemos também ver a realidade do Brasil com muita esperança; é possível ver uma grande atuação dos leigos, dos movimentos e pastorais. Nós não estamos em crise na maior parte das dioceses, é o contrário, nós não sabemos como acolher tanta gente. Precisamos olhar para a Igreja em seu conjunto, claro que cada diocese tem seus próprios desafios, mas não podemos olhar só para a realidade da Europa, ou da África, ou da América Latina. Eu vejo este Sínodo como uma grande partilha, uma grande comunhão.
Responsabilidade do momento presente: estamos em um momento em que não podemos assistir passivamente, nós somos chamados a abraçar a causa da Nova Evangelização pra valer e não pela metade. Cada paróquia, cada pastoral, cada movimento tem que fazer a sua parte para que Jesus, a fé em Cristo, a Palavra, o Evangelho chegue ao coração de toda a sociedade em suas várias expressões: famílias, jovens, (...).

Fonte: www.zenit.org

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