Libanio: amor apaixonado
Na noite desse 31/01/2014, aconteceu,
no auditório da FAJE, o Ofício da Noite, na
vigília junto ao corpo do Pe. Libanio e, em seguida, um longo, emocionado e
belo “Testemunho dos Amigos”, desde companheiros jesuítas de longa data, como o
Pe. MacDowell, até pessoas anônimas da comunidade. Mensagens vindas de outras
cidades e países também foram lidas. O jornalista Chico Pinheiro
enviou belíssimo depoimento http://www.ihu.unisinos.br/noticias/527834-joao-batista-libanio-1933-2014-homenagem-de-chico-pinheiro
- sobre o papel do Libanio na formação da juventude da sua geração, aqui em BH.
A presidente Dilma, que também conheceu Libanio, na sua juventude, também
mandou uma mensagem à família. Coube a um primo do Libanio
falar em nome da família. Um primo mais que especial: Frei Betto. Contou que,
para os familiares, Libanio era o João, o tio João de muitos sobrinhos.
Frei Betto disse que não gostava da palavra
‘morte’. Ela não dá conta de expressar a realidade que se manifesta quando a
vida parece ter chegado ao fim. Parece... Ele usou a expressão transvivamento,
passar para outra dimensão da vida.
Gosto, também do que disse Guimarães Rosa:
“A gente não morre, fica encantado”.
Nada mais adequado ao Libanio, ou ao tio
João, que nos encantou a todos e a tantos, ao longo da vida.
Diante do caixão, fiquei pensando: cheguei
a uma idade em que, quando me dizem que alguém morreu, por exemplo, com 75
anos, respondo na hora: novo, não? Tem
sido assim de uns tempos pra cá; tenho achado que todo mundo está morrendo novo
demais. Taí outra expressão perfeita para o Libanio: morreu novo demais, na
juventude dos seus 81 anos.
Depois, fiquei ouvindo os depoimentos, as
conversas entre as pessoas, mergulhando nesse clima que vai se estabelecendo
quando o velório adentra as horas da noite, da madrugada.
É engraçado, até quando morre um canalha (e
canalhas morrem apesar de alguns, talvez por terem vestido o fardão da
Academia, se julgarem imortais), as pessoas no velório naturalmente dirigem a
conversa na direção de buscar a bondade possível que ficou daquela vida. É
compreensível.
Aprendi com o Libanio que Deus, que É amor,
criou a cada um de nós POR amor e PARA o amor.
O amor é nosso berço, caminho e destino. É o que dá sentido à nossa
existência. Então, é natural que, ao fim de uma vida, se busque justificar com
a lembrança da bondade exercitada pelo falecido, o sentido dessa vida, agora,
pronta para a plenitude.
A bondade original do Libanio, na memória
agradecida de tantos, fluía, transbordava das conversas, assim como a Criação transborda, todos os dias, do coração de um Deus que é amor
e se derrama por inteiro nas suas criaturas.
Em Jesus, Libanio aprendeu, viveu e ensinou, Deus se revela
definitivamente e amorosamente, ‘apaixonado’. Nele, o amor diviniza a
humanidade e a paixão humaniza a divindade. E se somos ‘imagem e semelhança
deste Deus’, não amamos e nos apaixonamos por altruísmo, porque é poético,
romântico e prazeroso. Amamos e nos apaixonamos porque somos divinos e humanos.
Tudo o que fazemos e vivemos, das
escolhas mais fundamentais ao mais banal dos gestos cotidianos, traz consigo a
possibilidade amorosa e apaixonada. É nossa vocação. Fazer escolhas, abraçar
ideais, por amor e com paixão. É da nossa gênese. Está no nosso DNA espiritual
e eterno.
Libanio foi uma pessoa assim,
amorosa. Pessoas assim são naturalmente apaixonantes. Elas contagiam e atraem
tudo em si e à sua volta. São pessoas “amáveis” e, acrescento, “apaixonáveis”.
É impossível não amá-las, não querer estar ao lado delas, a não ser que o
egoísmo tenha bloqueado todas as nossas sinapses afetivas.
Elas sinalizam a verdade da síntese
que Jesus fez dos mandamentos: “amar a
Deus com todo o seu coração, com toda a sua alma, com todo o seu entendimento e
com toda a sua força, e ao próximo como a si mesmo” (Marcos 12, 30).
Pronto, taí a definição do amor
apaixonado que Libanio viveu e compartilhou. Amou com todo o seu coração, com
toda a sua alma, com todo o seu entendimento e com toda a sua força. Amou com
toda a sua alegria e liberdade. Amou com seu corpo e seus sentidos. Entregou-se
inteiro e apaixonadamente ao amor, Partilhando o SER e o TER, em
tudo, amando e servindo, como rezou e viveu seu pai Inácio.
Aprendi com o Libanio; é assim que Deus é.
É assim que Ele nos convida a
ser.
Eduardo
Machado
01/02/2014
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