terça-feira, 3 de junho de 2014

Com vistas à Copa, moradores de rua começam a ser retirados à força dos espaços públicos


Marcela Belchior
Adital

ReproduçãoLegitimando o que já vinha ameaçando, a organização para a Copa do Mundo FIFA 2014 começa a realizar operações para a remoção forçada da população em situação de rua de espaços públicos que interessam para o evento. Denúncias da Associação Rede Rua, organização que promove a inclusão social dessa parcela da população no Brasil, afirmam que na manhã da última sexta-feira, 30 de maio, operação policial em São Paulo, maior cidade do país e que vai receber a cerimônia de abertura do evento esportivo, expulsou um grupo de pessoas.

A ação ocorreu no início da manhã, no viaduto Alcântara Machado, no início da Av. Radial Leste, caminho para o Estádio Itaquerão, onde acontecerão os jogos. Segundo a Associação, os ocupantes da estrutura foram atacados pela tropa policial com bombas de efeito moral na tentativa de dispersá-los. Em reação, as pessoas que se abrigavam no local faziam barricadas com fogo. Pessoas foram atingidas por estilhaços das bombas e golpes de cassetetes.

De acordo com testemunhas, após a dispersão dos ocupantes, executada com violência, truculência e nenhum diálogo, a operação, munida de caminhões, iniciou imediata limpeza e pintura do local. "O f* da p* do comandante autorizou derrubar o barraco com meu filho de 10 meses dentro. Minha mulher está machucada, com o pé machucado”, relatou para a Rede Rua um dos ocupantes. No viaduto, se abrigavam adultos, entre homens e mulheres, além de idosos e crianças.

Segundo a coordenadora da Pastoral Nacional da Rua, que defende os direitos da população brasileira que vive em lixões e nas ruas das cidades, Irmã Cristina Bove, no processo de dispersão da população não houve nenhum trabalho de encaminhamento das pessoas em situação de rua para atendimento social. Os ocupantes do viaduto se dissiparam pelas ruas de São Paulo.

"Realmente, foi uma operação de maquiagem da cidade contra a cidadania”, avalia. "As autoridades têm que compreender que não podem tratar a população dessa maneira. Eles também são cidadãos”, complementa Irmã Cristina, em entrevista à Adital. A duas semanas do início dos jogos, que serão realizados de 12 de junho a 13 de julho em 12 cidades brasileiras, denúncias indicam que operação semelhante será realizada em breve na cidade de Belo Horizonte, Estado de Minas Gerais, que receberá no Estádio Mineirão seis jogos da Copa do Mundo.

De acordo com a coordenadora, essas foram as primeiras denúncias formais de violação dos direitos humanos da população em situação de rua vinculadas aos preparativos para o evento. Um trabalho integrado entre órgãos, como o Ministério Público e a Defensoria Pública de todos os estados brasileiros, em parceria com os movimentos sociais realiza o acompanhamento dos casos. Desde já e durante todo o evento, equipes estarão de plantão nas 12 cidades-sede na defesa dessa parcela da população.

Para Irmã Cristina, essa ação da organização da Copa do mundo faz parte de determinação arbitrária — liderada pela FIFA (Federação Internacional de Futebol) e coadunada pelos governos estaduais e municipais do Brasil — que impôs restrições ao acesso e permanência dessa população nessas áreas durante o evento. Tal medida deixa essas pessoas ainda mais vulneráveis, já sofrendo de discriminação social e marginalizadas de direitos básicos, como moradia e soberania alimentar.

Denuncie
No Brasil, para denunciar casos de violação dos direitos da população em situação de rua, Disque 100.

Fonte: http://site.adital.com.br/site/noticia.php?lang=PT&cod=80873

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