Que devemos fazer?
Como preparar-se para o
Natal
BELÉM DO PARÁ, sexta-feira, 14 de dezembro de 2012 (ZENIT.org) - Sempre que irrompe diante de
nossos olhos a novidade, surgem com ela as interrogações e as provocações a uma
reação. Os fatos mais corriqueiros, positivos ou negativos, podem ser
compreendidos como sinais que pedem nossa resposta, tanto que um mínimo de consciência
pessoal e social causa indignação quando se espalha a indiferença e a
insensibilidade. Passar pela rua e ver um acidente de trânsito suscita
curiosidade, dela se vai à pergunta sobre as causas, verifica-se a ocorrência
de ajuda às pessoas envolvidas, provoca-se a coragem para parar e perguntar se
se pode fazer algo. É um processo que pode durar segundos ou horas, mas faz
parte de nossa humanidade desejar envolver-se e participar, responder com
gestos concretos aos fatos que nos cercam.
Diante do fato mais significativo de toda a história, o mistério
do Verbo de Deus encarnado, em torno do qual gira o tempo, não é possível ficar
indiferentes. Ao preparar a estrada do mundo e dos corações para a manifestação
de Jesus Cristo, seu precursor João Batista (Lc 3,10-18) suscitou na multidão a
pergunta que muda a vida: “Que devemos fazer?” Nos tempos que correm, quando a
humanidade deve, pela duomilésima décima segunda vez dizer “bem vindo” ao
Menino de
Belém de Judá, nosso Senhor Jesus Cristo, Redentor da humanidade,
repete-se a mesma interrogação. Das respostas dadas por João Batista, colhemos
indicações precisas e atuais.
Prepara-se a vinda de Jesus e se estabelece o clima para com ele
conviver, quando quem “tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e quem tiver
comida, faça o mesmo!” Existem no mundo recursos para uma vida digna de todos
os seus habitantes. A natureza pode oferecer o necessário para alimentar sua
população. São conceitos de uma “demografia” diferente, que parte da partilha e
da comunhão, semelhante à coleta feita por São Paulo: “De fato, quando existe a
boa vontade, ela é bem aceita com aquilo que se tem; não se exige o que não se
tem. Não se trata de vos pôr em aperto para aliviar os outros. O que se deseja
é que haja igualdade: que, nas atuais circunstâncias, a vossa fartura supra a
penúria deles e, por outro lado, o que eles têm em abundância complete o que
acaso vos falte. Assim, haverá igualdade, como está escrito: Quem recolheu
muito não teve de sobra, e quem recolheu pouco não teve falta” (2 Cor 8,12-15).
Fala-se tanto de uma crise mundial, e não poucos alertam para sua possível
chegada às nossas plagas, e chegará mesmo, porque a era do individualismo, da
ganância e do consumo descontrolado veio na frente. Independente das eventuais
crises, realiza-se como pessoa humana quem se lança na aventura da partilha e
da comunhão!
No tempo de João Batista, “até alguns cobradores de impostos foram
para o batismo e perguntaram: Mestre, que devemos fazer? Ele respondeu: Não
cobreis nada mais do que foi estabelecido”. Recentemente celebrou-se um dia de
movimentação contra a corrupção! De João Batista para cá, as mazelas humanas
continuam tendo características semelhantes e as respostas são as mesmas! Se
criássemos juízo, nem seriam necessárias as sucessivas operações policiais para
a mudança. É hora de retornar à proposta do Evangelho!
“Alguns soldados também lhe perguntaram: E nós, que devemos fazer?
João respondeu: Não maltrateis a ninguém; não façais denúncias falsas e
contentai-vos com o vosso soldo”. Mais uma vez a atualidade da Palavra se
revela. Todos os que detêm algum poder da sociedade podem ouvir e descobrir
atual a resposta de João Batista. Se o conselho foi dado aos soldados, que
dizer aos que têm parentesco ou conluio com o crime organizado? Que se pode
pensar da violência organizada no campo ou na cidade, em nosso Estado e em
nosso País? Ou, se voltarmos ao recesso de nosso lar, onde tantas vezes se
inicia a corrupção e o relaxamento moral, ali comece a superação da violência!
Santa ingenuidade! Poderão dizer algumas pessoas. É simplória a
proposta da Igreja, que pede partilha dos bens, superação da corrupção, amor ao
próximo? No entanto, a realidade demonstra que não há caminho mais verdadeiro.
Quando o Evangelho diz que “assim e com muitas outras exortações, João
anunciava ao povo” (Lc 3,18), fica aberta a conversa, para que cada um de nós
pergunte ao Precursor, com coragem para ouvir a resposta, o que deve fazer para
receber Jesus, aquele de quem João disse com sinceridade: “Virá aquele que é
mais forte do que eu. Eu não sou digno de desatar a correia das suas sandálias.
Ele vos batizará com o Espírito Santo e com fogo. Ele traz a pá em sua mão para
limpar a eira, a fim de guardar o trigo no celeiro; mas a palha, ele queimará
num fogo que não se apaga” (Lc 3,16-17).
Dom Alberto Taveira Corrêa
Arcebispo Metropolitano de Belém
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