O TREM DA JUVENTUDE[1]:
Precisará de um combustível. Vamos usar carvão vegetal? Diesel? Álcool? Gasolina? Não! Nosso combustível deve ser ecológico e renovável. Gerar vida e não morte;
Precisará de um trilho. Qual será abitola, a medida desse trilho? Será a medida de nossos sonhos! Não podemos nos deixar guiar nem instrumentalizar, seja qual for à justificativa;
Precisará de maquinistas. Que sejam amorosos, que saibam com clareza qual é o sentido de nosso trem. De nossos sonhos, de nossa luta. Para tanto, precisa de uma metodologia libertadora, humanizadora, de formação e mobilização. De uma teologia da libertação, que ensine a amar e não a ter medo;
Precisará de estações. Onde uns descerão e outros subirão. Livremente! São paradas para abastecer, para descansar, para refletir. São a confirmação do direito universal de ir e vir, negado a tantas pessoas, sobretudo jovens do meio popular;
Precisará de manutenção. De revisão, de reforço didático e metodológico. De conteúdos que sejam construídos por todos os passageiros. De sustentabilidade, que, mais que recursos, contenha comunicação e dialogicidade. De educação para a liberdade;
Precisará de um ritmo. Que atenda e respeite os mais variados ritmos e tempos de seus diversos passageiros. Que saiba o tempo de correr e o tempo de parar. O tempo de dobrar os joelhos e fechar os olhos e o tempo de arregaçar as mangas e lutar. O tempo de ouvir e o tempo de falar;
Precisará de sinais. Quais serão os sinais que nos orientarão no percurso? Apontando os perigos, os desafios, as conquistas e avanços? Para não ficarmos excessivamente otimistas e perdermos o senso crítico, mas também não nos perdermos nas críticas vazias e genéricas. Ambas têm o poder de afastar pessoas.
Precisará de janelas. Que possibilitem a entrada de ar fresco e refrescante. A brisa e o cheiro de nossas matas, rios e terras. O perfume de nossas flores, a beleza de nosso céu. Janelas que nos permitam namorar a vida. Aprender e ensinar com outras pessoas. Com outras pastorais. Com outros movimentos. Com outros passageiros de outros trens, que deslizam sobre outros trilhos, mas que buscam a mesma estação final. A sociedade justa e solidária;
Precisará de eixos. Bem dimensionados, que suportem o peso de nossas utopias. De nossas ousadias e indignações. Eixos temáticos que abriguem e articulem nossos conteúdos, nossos princípios e nossa diversidade étnico/cultural. Que carreguem bem juntinhas, a fé e a vida;
Precisará de buzina. Para buzinar forte. Apitar alto a todos os ouvidos, quando algo ou alguém, ameaçar a vida, nosso bem maior. Quando a vida humana for desumanizada. Quando as pessoas, a terra, os rios e as fontes forem mercadorizadas. Mas também para celebrarmos, aos quatro ventos, nossas alegrias. Cantar nossos louvores;
Precisará de pontes. Que sejam firmes e fortes. Na fé e na ideologia. Que nos liguem aos abismos sociais. Que acabem com os isolamentos e com as ilhas sociais. Que nos levem da indiferença e do comodismo ao engajamento. À solidariedade e à indignação. Que nos traga sempre nova, a esperança. Fresca, viçosa e autônoma como a brisa de cada manhã.
Precisará de faróis. Que iluminem nossos trilhos e destinos. Qual a lua clara sobre o mar, desvelem as realidades obscuras que naturalizam injustiças e opressões. Que iluminem os porões do autoritarismo, do moralismo e dos medos e aponte para o Reino de Deus pregado pelo jovem Nazareno. Que seja uma espiritualidade capaz de humanizar a vida e as relações. Que comunique o mistério e nos leve ao encontro com o sagrado. Que nos ajude e ensine a pensar e não nos transmita apenas pensamentos prontos. Que clareie o jeito de ser igreja povo de Deus, igreja libertadora, gestada no Concílio Vaticano II e parida em Medellín e Puebla;
Precisará de uma sombra. De uma árvore onde faremos poesia, namoraremos e afetivamente faremos amor. Onde tiraremos as sandálias e descansaremos e de onde retomaremos a caminhada. Onde cantaremos salmos e reabasteceremos nossas forças. Essa árvore só pode ser a da juventude plena que é Deus.
[1] João Santiago. É Teólogo, Poeta e Militante. É Educador Popular e assessorou a oficina “Juventude e Educação Popular” no III Congresso Nacional da Pastoral da Juventude do Meio Popular, em Bom Jesus da Lapa, Bahia. É autor do Livro “Vida e Poesia” entre outros.