A EXPERIÊNCIA DE TRANSMITIR A FÉ
d.
Esperança em um futuro absoluto de plenitude que agora já se pode pré-usufruir,
anunciar e construir.
Junto com a fé
e o amor, a experiência da esperança forma parte das experiências fundamentais
do discípulo de Cristo. Dita experiência brota fundamentalmente da ressurreição
de Cristo crucificado que, desde o reino dos mortos, entrou na vida de Deus e
não foi reanimado simplesmente para voltar à vida presente. Nossa dimensão
corporal, como a sua, será transformada, mas não eliminada. O mesmo se diz do
cosmos. Este é o testemunho de algumas pessoas que “viram” algo que transformou
suas vidas: Jesus vive e vive como primícia para nós, e desde a dimensão de
Deus, continua relacionando-se conosco. No acontecimento da ressurreição de
Jesus se inclui a ressurreição própria e a ressurreição universal, o perdão e a
reconciliação irrevogáveis de Deus, e também a promessa de “céus novos e terra
nova” que já se preparam e saboreiam, de alguma maneira, nesta existência. O
presente está orientado para o futuro sem deixar de ter sentido como presente.
Assim, a fé na ressurreição coloca os crentes num horizonte insuspeitado e
indeduzível de esperança. A totalidade do real fica definitivamente orientada
para uma meta final de plenitude e realização definitivas. Porém, esta dimensão
de futuro tem que ser dialeticamente combinada com sua dimensão de presente.
Com efeito, ao se confessar a ressurreição de Jesus, está-se confessando sua
presença vivificante de ressuscitado no hoje da história. A história se converte,
assim, no cenário onde se pode vislumbrar a vida nova que não tem fim. A
esperança cristã não é simples espera passiva, mas exigência ativa de
transformação social e gera no cristão a exigência de uma práxis de
transformação social, informada pela solidariedade com as vítimas, projetando
todo o existente para essa plenitude final de “um céu novo e uma terra nova…,
onde será enxugada toda lágrima dos olhos dos homens e não haverá já a morte,
nem haverá pranto, nem gritos, nem fadiga, porque o velho mundo passou” (Ap 21,
1.4). Esta experiência de esperança, junto com a experiência da presença sempre
atual de Jesus, está ligada a experiência do Espírito do Ressuscitado: O
Ressuscitado se vai na ascensão, mas fica, entregando seu Espírito, que nos
abre os olhos, e nos permite confessar a Jesus como “O Senhor”, que impulsiona
a missão, que cria a comunhão na diversidade, que sopra e fecunda as “sementes
do verbo” presentes na humanidade e na criação, atualização e universalização
da pessoa e da ação de Jesus.
6. Comunhão
Eclesial
Esta
experiência de fé, amor e esperança, de que “somos aceitos incondicionalmente,
podemos confiar sem limites e de que vale a pena crer no amor” só é possível
fazê-la em comunidade, em Igreja. Identidade e pertença se implicam mutuamente.
As comunidades são o lugar onde se fortalece a fé e de onde surgem os
testemunhos capazes de seguir transmitindo-a. Inclusive, a Igreja constitui o
Sacramento (sinal visível e eficaz) da união íntima dos seres humanos com Deus
e entre si. A comunidade cristã é o lugar onde se pratica e celebra,
alegremente, a vivência da fé, onde se descobre a familiaridade de Deus, a
igualdade humana, o serviço, a liberdade, a partilha, o amor incondicional etc.
Sem um lugar onde se possa provar a autenticidade da mensagem cristã, este
discurso não passaria de um entre tantos outros. Por outro lado, especialmente
na situação da falta de apoios externos na sociedade e na cultura, as
comunidades cristãs se apresentam, testemunhando sua fé, como contexto vital
que promove a pessoa humana e a qualidade de vida da sociedade.
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