Olá Juventude.... continuamos o tema:
A EXPERIÊNCIA DE TRANSMITIR A FÉ
5. Experiências que Jesus quer suscitar
diante deste Deus
Jesus se sente amado e enviado
pelo Deus Abbá, e põe toda a sua vida a disposição de Deus para estabelecer seu
Reino. Concretamente, Jesus quer provocar nos crentes algumas experiências
fundamentais a respeito de Deus:
A. Fé como confiança radical Em
primeiro lugar, Jesus quer provocar a experiência de fé, no sentido de
confiança em Deus, que é bom e misericordioso. A experiência gozosa de ser
querido, aceito, amado, perdoado, curado, acolhido de forma incondicional,
imerecida e desde sempre por um Deus Pai-Mãe que, em Jesus, mostrou-nos até que
ponto ele se implica com a realidade humana e a leva no coração. Forma parte
também da fé no Deus de Jesus, a experiência de sentir-se “criatura”, de
experimentar a própria vida como dom recebido fruto de uma vontade amorosa e
não meramente da causualidade ou do azar, de uma origem transcedente aos pais,
de alguém que pensou em mim amorosamente. Experiência de “conhecer-me” como
algo mais que matéria e instinto, esse “algo mais” que suponho entre o nada e a
“faísca” divina. Ser criatura de Deus, porém criatura livre, com uma margem
enorme de liberdade e indeterminação, que tem respeitada a sua subjetividade,
mas conduzida para a abertura ao criador, aos demais e ao mundo. Também forma
parte da experiência de fé no Deus de Jesus, sentirmo-nos em relação com Ele,
especialmente através da oração, sentir que “nele vivemos, nos movemos e
somos”, experimentar sua presença que nos acompanha em todos os momentos de
nossa vida.
B. Fé como respeito por seu
mistério e obediência A experiência da fé no sentido de confiança radical, vai
acompanhada sempre da experiência de “fiar-se apesar de tudo” de um Deus que continua
sendo “totalmente outro”, transcedente, a quem devemos respeitar nessa
alteridade e a quem não podemos manipular. Assumir a experiência de que seus
caminhos não são nossos caminhos, que nem sempre responde conforme desejaríamos
e que, portanto, convida-nos para uma busca e para uma purificação constante de
nossa fé, de nossos esquemas “religiosos” e de nossas tentações de viver uma
religiosidade hipócrita, narcisista e opressora (idolatria). Também o crente
deve assimilar, desde sua confiança radical em Deus, a experiência do mal, do sofrimento
e da morte em nós, ao nosso redor e no mundo, como algo que faz parte do
mistério dessa vida e deste mundo criado assim por Ele. Porém, não só assimilar
e aceitar, mas experimentar que, desde a fé e da entrega incondicional, como
foi possível com Jesus, é possível encarar este mistério do mal sem fuga e nem
resignação passiva, mas lutando contra ele e reconvertendo-o em gesto de entrega
e de perdão.
C. Amor: “Vida nova” marcada pelo
amor, que se traduz em perdão, serviço, entrega, especialmente aos “pobres,
pequenos e pecadores”. Da experiência “fundante” de confiança radical no Deus
Abbá (ser amado, perdoado e respeitado incondicionalmente), surge uma “nova
vida” marcada pela experiência do outro como irmão, com quem devo me relacionar
do mesmo modo como Deus se relaciona comigo, porque também ele necessita de
amor, perdão, misericórdia, respeito e Deus oferece tudo isto através da
mediação histórica que sou eu. A paternidade de Deus não é só vertical, mas se
horizontaliza, de modo que a construção do seu Reino supõe a justiça para os
oprimidos, pão para os famintos e vista para os cegos…
Isto requer do cristão a
experiência de “descentramento” de si mesmo e entrega incondicional aos demais
(“o que quiser ser o primeiro, faça-se o último e o servidor de todos”, “faze
aos demais o que queres que façam a ti”). De modo que, outra das experiências
fundamentais do cristianismo é a experiência de “morrer para si mesmo para
viver”, que significa a entrega amorosa como o paradoxal caminho para a máxima
felicidade. Amor que supera não só a lei do talião (olho por olho, dente por
dente), mas também a do amor recíproco (“do ut des”), abrindo-se para aqueles
de quem não se pode receber nada em troca e inclusive aos inimigos, aqueles de
quem somente se recebe ou se pode esperar o mal. Neste sentido, forma parte da experiência
cristã a sensibilidade amorosa para com os pobres e os excluídos, com a
conflitividade inevitável que isso comporta.
Tal sensibilidade, tão evidente,
brota da mesma experiência e conhecimento de Deus que, no Magníficat de Maria,
“derruba os poderosos de seus tronos e eleva os humildes; sacia de bens os
famintos e despede os ricos demãos vazias” (Lc 1,53). A experiência de
confiança radical em Deus, conduz para a experiência de seu amor e de seu perdão
como um dom gratuito, que não se pode merecer nem conquistar, e nesse sentido,
não permite que alguém se sinta como “o justo” que tem mais direitos que os
“pecadores” a ser premiado por Deus, o que levaria a entrar numa dinâmica de
juízo, condenação e exclusão dos demais. Aquele que sentiu sua própria
indignidade e pecado e recebeu a misericórdia e o perdão, sente-se capacitado
para dizer sem medo, mas sem resignação: “Eu sou da mesma massa”
e perceber que os maus, como ele mesmo pode comprovar, apesar de maus, são
muitas vezes as primeiras vítimas do mal.
A partir do testemunho evangélico sobre
as curas de Jesus, também o cristão é convidado, mediante o mal e a
necessidade, a experimentar a força da confiança (“tua fé te salvou”) e do amor
(movido pela misericórdia) que faz surgir à esperança em nome de Deus. Jesus
vem ao nosso encontro para tirar de nós o melhor que temos e despertar forças terapêuticas
que quase desconhecemos; ajuda-nos a descobrir o poder da acolhida como fonte
de sanação. Finalmente, o cristão deve fazer a experiência, seguindo a Cristo crucificado
e ressuscitado, de quem o “amor e o perdão são mais fortes do que a morte”.
Este amor, portanto, permite enfrentar as perdas dolorosíssimas, inclusive a morte
física, que comporta uma vida marcada pela entrega, a misericórdia e o perdão. Constituem
a prova definitiva da fé e do amor: Vale a pena amar até este extremo? Com
certeza este é o caminho da vida e da felicidade? Esta é a experiência de
seguir o convite de Jesus de “carregar a cruz e lhe seguir”.
continua na proxima semana
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