sexta-feira, 8 de novembro de 2013

O Tesouro em nossas mãos


 “Queridos jovens amigos! Hoje, aconselho-vos a leitura de um livro extraordinário. É extraordinário pelo seu conteúdo, mas também pelo modo pelo qual é formado (...) Por isso, peço-vos: estudai o catecismo com paixão e perseverança! (...)Estudai o catecismo!
Esse é o desejo do meu coração. Formai grupos de estudo e redes sociais, partilhai-o entre vós na Internet!¹

Com essas palavras nosso Papa Emérito Bento XVI abre o prefácio do YouCat. Um trabalho também por ele dirigido com o intuito de aproximar a juventude da Igreja de uma maneira intelectual mais prática. Também nessa intenção que o Annus Fidei, ou Ano da Fé para nós brasileiros, foi aberto no início do ano litúrgico de 2013 e se findará logo com a solenidade de Cristo Rei, no próximo 24 de novembro.
Pode-se imaginar que Bento XVI em seu pontificado quis insistentemente levar-nos a conhecer de uma maneira mais profunda toda preciosidade de nossa mãe Igreja. E de fato, se compreendêssemos a profundidade de cada um dos cinco documentos principais que compõe o Concílio Vaticano II, certamente em cada um dessas obras a presença de Deus poderia ser vivida de uma maneira única. Quando aquele grupo de aproximadamente 2,5 mil bispos do mundo inteiro se reunia para a formação desses subsídios da fé cristã, um Cardeal já afirmava que levariam “cinquenta anos para que se conheçam o Concílio, por fim levar-se-ão mais cinquenta para que se vivam o Concílio”. Ora, o Ano da Fé não vem justamente comemorar o cinquentenário de abertura e ainda nos incentivar a viver este que, já diziam os bispos sinodais, é o “sopro do Espirito Santo na Igreja”? Não atoa também que, juntamente com nosso tão amado João Paulo II, no dia 27 de Abril de 2014 também veremos a canonização de João XXIII, o “Papa bom” como ficou conhecido por sua singular ação pastoral, e que a propósito abriu todo o trabalho para o Concílio. João XXIII queria principalmente que o depósito sagrado da doutrina cristã fosse guardado e ensinado de forma mais eficaz², isso porque todo magistério e toda a doutrina da Igreja ficavam restritos aos padres e bispos, trancados nas sacristias.
O Concílio precisa ser mais bem interpretado: muitas opiniões seculares são lançadas pela mídia em torno deste grande milagre cujo resultado, sem um olhar bem atento, acaba por relativizar a moral cristã dando a intender que a partir dali a Igreja seria transformada. Acontece que a Igreja Católica é e sempre será a única que, não por homens, mas por Deus foi fundada na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo, verdadeiro Deus verdadeiro Homem. Uma Igreja fundada por Deus é, portanto, isenta de qualquer espécie de imperfeições. Assim sendo não necessita de “mudanças”, não há o que se “inovar”... já é perfeita e ponto. Conhecer o Concílio Vaticano II leva-nos a entender que não é uma nova Igreja, mas a mesma Igreja de dois mil anos atrás, é ter contato com toda essa riqueza singular.
Imagine você se alguém lhe desse um baú que, contudo, possui uma tranca de senha. Você tem esse baú e quando ganhou a pessoa que o deu afirmou que seu conteúdo era valioso, mas você não sabia destravar a tranca. Você tenta várias e várias combinações e não consegue abrir aquele artefato. Acaba por deixá-lo de lado, jogado, em qualquer canto... não tem ideia do que o integra e por isso não o guarda com o zelo necessário. É então quando aquele que sabia do segredo vem e o abre, evidenciando seu conteúdo, uma porção de pedras de diamantes, de todos os tamanhos, polidas, uma beleza rara que você não saberia nem estimar um valor. Saber deste conteúdo traz tristeza pois todo o tempo que você passou com o baú você nunca o guardou devidamente. E se você o perdesse? E se o esquecesse, se alguém o roubasse? Você então perderia uma riqueza inestimável sem nem compreender o tamanho desta.
Bem assim devemos reverenciar nossa mãe Igreja: Um tesouro incompreendido, bem por isso precisamos de esforços sem medidas para ter consciência deste presente celestial, para que o zelemos e o reverenciemos devidamente. A Igreja de Cristo se prefigura em seu próprio Corpo Místico, e esse corpo deve ser vivo! Nós membros deste Corpo devemos buscar cada vez mais suas potencialidades para melhor o servir e amar. Em acordo com o todo apresentado, podemos concluir que o encerramento do Ano da Fé não deve fazer cessar nossa insistente busca em desvendar os segredos do baú, mas nos instigar a ir além e sermos conhecedores da Boa Nova para enfim podermos também difundir o ideário de Cristo, sendo sal da terra e luz do mundo. (Mat 5, 13-14).
 
Hudson Pereira de Oliveira.



¹BENTO XVI (2011). Prefácio de abertura do YouCat.

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