O
cardeal arcebispo de São Paulo (SP), dom Odilo Pedro Scherer, concedeu uma
entrevista ao jornal O São Paulo em que fala sobre o andamento do Sínodo dos
Bispos, que acontece no Vaticano. Acompanhe a íntegra da entrevista com o
cardeal.
A
13ª Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos foi aberta em Roma no dia 7 de
outubro, com o tema: “nova evangelização para a transmissão da fé cristã”. Como
se desenvolveram os trabalhos sinodais até agora?
Esta
Assembleia é a que, até agora, reuniu o maior número de participantes; são
cerca de 280 pessoas no total, das quais, uns 200 bispos. No primeiro dia, após
uma breve e bela reflexão do Papa, o Secretário Geral do Sínodo dos Bispos e o
Relator desta Assembléia Ordinária fizeram suas colocações; logo a seguir, a
palavra foi dada aos participantes, que puderam intervir por 5 minutos, cada
um, fazendo suas observações e reflexões sobre o tema; assim continuou por toda
a semana, só havendo uma pausa no dia 11, pela manhã, para a participação na
Missa de abertura do Ano da Fé. O Sínodo é um grande exercício de escuta e
discernimento da Igreja sobre o tema em questão. Quando todos os membros da
Assembleia tiverem tido a ocasião de intervir na Assembleia, haverá o trabalho
de grupos, para a elaboração de propostas sobre os vários aspectos do tema; as
propostas, finalmente, serão votadas em plenário e entregues ao Papa, como
fruto dos trabalhos sinodais.
A
fé católica está em crise no mundo?
Eu
não diria que a fé católica, enquanto tal, mas a transmissão da fé está em
crise. E isso tem a ver com vários fatores: a pouca clareza e formação na fé, a
superficialidade na experiência da fé, a evangelização insuficiente... Por
isso, a fé deixa de ser praticada, testemunhada e comunicada aos outros; é como
acontece com uma lamparina que não mais recebe mais óleo: pouco a pouco, ela
vai se apagando. Para superar essa crise, é preciso reencontrar os motivos da
fé, o alimento da fé e a alegria de crer. Só no renovado encontro pessoal com
Jesus Cristo, que nos revela Deus, é que podemos reavivar a nossa fé e refazer
o ardor missionário, que leva a transmitir a fé aos outros.
Quais
são as principais questões que até agora emergiram nos trabalhos do Sínodo?
São
muitas; os padres sinodais abordam com liberdade os diversos aspectos do tema
do Sínodo: da crise cultural, que cria dificuldades para a vivência e a
transmissão da fé; da necessidade de centrar a fé no Mistério de Deus revelado
em Cristo Jesus; da necessidade de uma iniciação sólida à vida cristã e de
formar bem os batizados na fé cristã; da urgência de uma catequese aprofundada
ao longo de toda a vida; fala-se também da “conversão pastoral e missionária”
de toda a Igreja, das iniciativas e ações missionárias já em andamento, da
formação mais aprimorada das vocações, do clero, dos leigos e religiosos. O
tema estimula a uma reflexão muito ampla. Fala-se também das experiências novas
e bem sucedidas de transmissão da fé, em todo o mundo; do uso dos Meios de
Comunicação para uma evangelização eficaz... Os participantes latino-americanos
fazem muitas referências à Conferência de Aparecida, que já suscitou tantas
iniciativas e dinâmicas de nova evangelização na Igreja.
Como
se dá a transmissão da fé?
A
fé é um dom de Deus, que devemos buscar e pedir com perseverança; Deus mostra o
caminho da fé para quem a procura. E a fé nasce e se alimenta na escuta e
acolhida da palavra de Deus e São Paulo chega a dizer que “a fé nasce da
pregação da Palavra de Deus”. Mas também ajuda a despertar a fé o testemunho de
vida cristã das pessoas de grande fé, como os santos, os místicos, as
testemunhas da caridade cristã; e não podemos esquecer que a fé se alimenta na
oração, na Eucaristia, na oração e na prática do amor ao próximo.
No
dia 11 de outubro, na comemoração do 50º aniversário da abertura do Concílio
Vaticano II, o Papa abriu o Ano da Fé; que relação existe entre esta
comemoração do Concílio, o Ano da Fé e o tema da Assembleia do Sínodo dos
Bispos?
Há
uma relação estreita. O primeiro objetivo do Concílio Ecumênico Vaticano II, há
50 anos, era dar um novo impulso à vivência, ao testemunho e à transmissão da
fé católica. O Ano da Fé, proclamado e aberto pelo Papa Bento XVI, tem esses
mesmos objetivos: renovar a experiência e a profissão pessoal e pública da fé,
aprofundar o conhecimento da fé e retomar o processo de transmissão da fé no
atual contexto de crise cultural e religiosa. E o objetivo da Assembleia do
Sínodo dos Bispos é rever e aprofundar a evangelização, para propiciar a
transmissão da fé. Acho que as questões estão bastante relacionadas umas com as
outras e, se as propostas do Sínodo e do Ano da Fé forem bem acolhidas e
vividas, o fruto certamente será muito bom.
O
Papa também assiste às sessões do Sínodo?
O
Papa convocou o Sínodo para ouvir os bispos e demais membros da assembleia
sinodal sobre o tema em pauta; por isso, ele está presente quase sempre nas
sessões e escuta atentamente tudo o que se diz. No final, todo o fruto dos
trabalhos sinodais será entregue ao Papa para que faça, a partir disso, a
Exortação Apostólica Pós-Sinodal.
Fonte: http://www.cnbb.org.br/site/imprensa/internacional/10555-sinodo-dos-bispos-entrevista-com-dom-odilo-pedro-scherer
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